Hoje acordei com a má notícia de que já estava à espera. A minha irmã Maria havia falecido.
Hospitalizada por causa de uma perna que, teimosamente, inchava e lhe provocava dores dificultando-lhe a locomoção, a minha irmã (que era também minha madrinha) nunca se apercebeu que o problema dela era muito mais grave.
No hospital descobriram que tinha cancro no estomago, que já tinha alastrado ao fígado e que, dada a gravidade do caso, nada havia a fazer. Não valia a pena operar; não valia a pena fazer quimioterapia.
Mesmo assim, confesso, fiquei na expectativa de que durasse mais uns meses... Faleceu esta manhã.
A minha irmã Maria não teve vida fácil. Com apenas 8 anos de idade foi mandada para Fafe onde, em casa de uma senhora, já realizava várias tarefas. Os meus pais explicaram-lhe que era melhor para ela. Em Fafe ela, pelo menos, sempre teria o que comer...
Como a minha irmã Alzira era, na altura, bébé a Maria tinha muitas saudades da irmã e, por isso, várias vezes fugiu da senhora de Fafe, voltando para casa. Já em casa, e com as saudades atenuadas, os meus pais lembravam-lhe que ela agora trabalhava em Fafe e que aí, pelo menos, tinha o que comer. Ela respondia que sim; que iria novamente para Fafe pois já tinha visto a menina... Já tinha matado as saudades.
Já crescida veio para Matosinhos e, para além de ter de cuidar dela, passou a ter que preocupar-se com os meus dois irmãos já que, também eles, tiveram que vir trabalhar para a cidade.
Aparentemente não teve grande sorte com os homens que lhe foram aparecendo, acabando por casar com alguém que, embora sendo homem sério e honesto, era extremamente carente, com alguns traumas. Por isso bebia muito, o que originou que a vida da Maria não decorresse em tons, própriamente, rosa.
A partir do momento em que ficou Viuva, a minha irmã passou a viver como quis. Livre, sem grandes preocupações, sem dificuldades de maior; até que a saúde acabaria por a trair.
Tinha eu 11 anos quando o meu pai faleceu. Lembro-me que, nessa altura, o meu Pai chamou a Maria e confiou-lhe a minha mãe e o filho mais novo (eu), tarefa que ela nunca descurou.
Há dias, quando a visitava no Hospital, ela dizía-me: "Carlos, tens a tua vida, não precisas de vir cá todos os dias..." ao que eu lhe respondi: "És mais velha do que eu e a minha madrinha mas agora já não mandas em mim; venho aqui sempre que puder..." Ela riu-se e disse: "Nunca mais me mandam embora. Não sei o que estou aqui a fazer; não me doi nada..."
Mal ela (e eu) sabia que não duraria muitos mais dias.
Várias vezes a Maria ouviu a mensagem do Evangelho. Não sei se alguma vez a compreendeu e, muito importante, a aceitou. Ontem, no hospital, apercebendo-me de que ainda me ouvia, disse-lhe: "Maria vou dizer-te isto mais uma vez; fala com Jesus; confessa-lhe os teus pecados (porque todos somos pecadores) e pede-lhe que Ele entre no teu coração e se torne teu Senhor e teu Salvador..."
Será que ela percebeu e o fez?. Gostava tanto de a encontrar na eternidade.
segunda-feira, setembro 01, 2008
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9 comentários:
vamos ter saudades dela.
"Porque, assim como a chuva e a neve descem dos céus e para lá não tornam, mas regam a terra, e a fazem produzir e brotar, para que dê semente ao semeador, e pão ao que come,
assim será a palavra que sair da minha boca: ela não voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei." Isaías 55:10 e 11
Que estas simples palavras consolem o teu coração.
DTA
Obrigado di. DTA
é nestas alturas que não sei o que dizer que as simples palavras~parecem não querer sair. quero apenas lhe dar um forte e caloroso abraço e um beijinho grande.
Obrigado Mimi. Beijinhos
Ontem nascemos e amanha morreremos.
Bendito aquele que tens a esperança da Vida Eterna porque a Gloria é-nos prometida.
Sofremos com a duvida dos outros, mas não desfaleças... nunca, porque o amanhã pode reluzir com muitas alegrias.
Um abraço
Obrigado Samuel. Grande abraço
Os meus mais sinceros sentimentos.
Abraço forte.
Obrigado Jorge. Abraço
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