segunda-feira, setembro 01, 2008

A minha irmã Maria

Hoje acordei com a má notícia de que já estava à espera. A minha irmã Maria havia falecido.
Hospitalizada por causa de uma perna que, teimosamente, inchava e lhe provocava dores dificultando-lhe a locomoção, a minha irmã (que era também minha madrinha) nunca se apercebeu que o problema dela era muito mais grave.
No hospital descobriram que tinha cancro no estomago, que já tinha alastrado ao fígado e que, dada a gravidade do caso, nada havia a fazer. Não valia a pena operar; não valia a pena fazer quimioterapia.
Mesmo assim, confesso, fiquei na expectativa de que durasse mais uns meses... Faleceu esta manhã.
A minha irmã Maria não teve vida fácil. Com apenas 8 anos de idade foi mandada para Fafe onde, em casa de uma senhora, já realizava várias tarefas. Os meus pais explicaram-lhe que era melhor para ela. Em Fafe ela, pelo menos, sempre teria o que comer...
Como a minha irmã Alzira era, na altura, bébé a Maria tinha muitas saudades da irmã e, por isso, várias vezes fugiu da senhora de Fafe, voltando para casa. Já em casa, e com as saudades atenuadas, os meus pais lembravam-lhe que ela agora trabalhava em Fafe e que aí, pelo menos, tinha o que comer. Ela respondia que sim; que iria novamente para Fafe pois já tinha visto a menina... Já tinha matado as saudades.
Já crescida veio para Matosinhos e, para além de ter de cuidar dela, passou a ter que preocupar-se com os meus dois irmãos já que, também eles, tiveram que vir trabalhar para a cidade.
Aparentemente não teve grande sorte com os homens que lhe foram aparecendo, acabando por casar com alguém que, embora sendo homem sério e honesto, era extremamente carente, com alguns traumas. Por isso bebia muito, o que originou que a vida da Maria não decorresse em tons, própriamente, rosa.
A partir do momento em que ficou Viuva, a minha irmã passou a viver como quis. Livre, sem grandes preocupações, sem dificuldades de maior; até que a saúde acabaria por a trair.
Tinha eu 11 anos quando o meu pai faleceu. Lembro-me que, nessa altura, o meu Pai chamou a Maria e confiou-lhe a minha mãe e o filho mais novo (eu), tarefa que ela nunca descurou.
Há dias, quando a visitava no Hospital, ela dizía-me: "Carlos, tens a tua vida, não precisas de vir cá todos os dias..." ao que eu lhe respondi: "És mais velha do que eu e a minha madrinha mas agora já não mandas em mim; venho aqui sempre que puder..." Ela riu-se e disse: "Nunca mais me mandam embora. Não sei o que estou aqui a fazer; não me doi nada..."
Mal ela (e eu) sabia que não duraria muitos mais dias.
Várias vezes a Maria ouviu a mensagem do Evangelho. Não sei se alguma vez a compreendeu e, muito importante, a aceitou. Ontem, no hospital, apercebendo-me de que ainda me ouvia, disse-lhe: "Maria vou dizer-te isto mais uma vez; fala com Jesus; confessa-lhe os teus pecados (porque todos somos pecadores) e pede-lhe que Ele entre no teu coração e se torne teu Senhor e teu Salvador..."
Será que ela percebeu e o fez?. Gostava tanto de a encontrar na eternidade.

9 comentários:

sara disse...

vamos ter saudades dela.

Di disse...

"Porque, assim como a chuva e a neve descem dos céus e para lá não tornam, mas regam a terra, e a fazem produzir e brotar, para que dê semente ao semeador, e pão ao que come,
assim será a palavra que sair da minha boca: ela não voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei." Isaías 55:10 e 11

Que estas simples palavras consolem o teu coração.
DTA

José Carlos disse...

Obrigado di. DTA

Anónimo disse...

é nestas alturas que não sei o que dizer que as simples palavras~parecem não querer sair. quero apenas lhe dar um forte e caloroso abraço e um beijinho grande.

José Carlos disse...

Obrigado Mimi. Beijinhos

Anónimo disse...

Ontem nascemos e amanha morreremos.
Bendito aquele que tens a esperança da Vida Eterna porque a Gloria é-nos prometida.
Sofremos com a duvida dos outros, mas não desfaleças... nunca, porque o amanhã pode reluzir com muitas alegrias.
Um abraço

José Carlos disse...

Obrigado Samuel. Grande abraço

Jorge Oliveira disse...

Os meus mais sinceros sentimentos.
Abraço forte.

José Carlos disse...

Obrigado Jorge. Abraço