sexta-feira, maio 18, 2007

Ilusões

Mês sim, mês não cabe-me a tarefa de enfeitar a campa da minha falecida mãe. É um gesto que cumpro numa homenagem à sua memória e por respeito aos familiares que ainda vivem.
Quase sempre, quando estou a executar a tarefa, aparece um senhor de idade que vai fazer o mesmo que eu à campa da sua falecida mulher. Chega, dá um beijo na foto que está na lápide e, como se fosse inteiramente normal, fala com a esposa contando-lhe o que se tem passado com ele. Fala-lhe dos fihos, dos netos, de outros familiares e dos vizinhos. Por vezes chora, às vezes ri.
Há tempos disse a uma senhora, que também lá vai e me costuma emprestar um balde para ir buscar água, que um dia haveria de dizer àquele homem: "Ò amigo não vale a pena falar com a sua esposa porque ela não consegue ouvi-lo. Os mortos não se comunicam com os vivos".
Aquela senhora, embora concordando comigo, disse-me: "Não faça isso; vai tirar a ilusão ao homem".
Pois é. Este mundo vive de ilusões. Em alguns casos, como o que está em questão, não ha perigo de maior, mas noutros como as ilusões podem ser perigosas...

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