quinta-feira, setembro 21, 2006

Angolano

Estava eu a acabar da dar a minha caminhada quando ouço um africano, baixinho, de fato e gravata e com um pasta de couro muito velha na mão, a chamar-me.
Parei e ele, aproximando-se, apresentou-se dizendo, não o nome mas a nacionalidade. "Sou angolano; licenciado, estou aqui porque fiquei de me encontrar com um professor com quem trabalhei em Angola e que ficou de me ajudar. Ficou de se encontrar aqui comigo, já passaram duas horas e até agora ainda não apareceu. Eu sei que ele vem porque é um homem sério e sabe das minhas dificuldades mas eu não tenho dinheiro nenhum e ainda não tomei sequer o pequeno almoço".
Visivelmente nervoso, e a cheirar mal (aquele corpo já não devia ver um bom banho há vários dias) por entre um português "acriolado" o angolano continuou; "posso identificar-me..." Abriu a velha pasta e tirou de lá uma velha carteira com documentos, mostrando-me de seguida um cartão de identificação da ordem dos arquitectos angolanos.
Continuando nervoso repetiu; "Sou licenciado e vim para Portugal porque me garantiram apoio. O meu antigo professor deve estar atrasado, mas eu tenho a certeza que ele vem. Ele é um homem sério...".
Abri a carteira e dei-lhe dois euros. "Tome o pequeno almoço" disse-lhe e desejei-lhe felicidades.
Depois que entrei no carro (já estava atrasado para os meus compromissos) comecei a pensar. Ò Zé Carlos, se calhar foste, mais uma vez, enganado. A mania de acreditares em tudo o que te dizem..."
Mas depois o meu pensamento evoluiu; "E se for verdade? se calhar deveria ter-lhe dado mais dinheiro..."
Situação difícil, não é?

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